Quem é a “defensora” de causas Mariann Edgar Budde, a bispa que ...
“Há crianças gays, lésbicas e transgénero em famílias democratas, republicanas e independentes. Algumas temem pelas suas vidas”, apelou a bispa Mariann Edgar Budde, dirigindo-se directamente ao Presidente Donald Trump, pedindo-lhe que protegesse os imigrantes e os direitos dos homossexuais e transgénero. O sermão, nesta terça-feira na Catedral de Washington, está a percorrer o mundo através das redes sociais, tornando a bispa a protagonista.
Mariann Edgar Budde tem 65 anos e é a primeira mulher a ser líder da Igreja Episcopal de Washington. No Verão passado, a paróquia anunciou que estava a planear um serviço religioso para quem vencesse as presidenciais de 2024. Independentemente de quem vencesse — Kamala Harris ou Donald Trump.
E já se sabia que Mariann Edgar Budde não é particularmente apoiante de Donald Trump. Em 2020, a bispa escreveu um texto de opinião no The New York Times onde se confessava “horrorizada” com o uso que Donald Trump fazia da Bíblia, quando o Presidente fez um comício na igreja de St. John’s e a polícia usou gás lacrimogéneo contra os manifestantes a favor da justiça racial.
Nesta terça-feira, Mariann tinha outro recado para Trump e dirigiu-se-lhe directamente com um pedido de “misericórdia” para com “as pessoas do nosso país que estão assustadas agora”. “Peço-lhe que tenha piedade, Sr. Presidente", disse, acrescentando: “Todos nós já fomos estrangeiros nesta terra.”
A bispa referiu-se ainda à comunidade LGBTQ e transgénero — “crianças gays, lésbicas e transgénero em famílias democratas, republicanas e independentes, algumas das quais temem pelas suas vidas” — depois de Donald Trump ter dito, no discurso de tomada de posse, que os EUA passariam a ter apenas dois géneros: masculino e feminino. A dignidade humana, sublinhava a consagrada, “recusa-se a troçar, a descontar ou a demonizar”. E reiterava: “Sem unidade, estamos a construir a casa da nossa nação sobre a areia.”
Enquanto Mariann Edgar Budde falava, Trump olhou para baixo sem qualquer reacção aparente. Já J.D. Vance ficou visivelmente incomodado e franziu o sobrolho. No final do serviço, o Presidente disse aos jornalistas que não tinha ficado muito satisfeito com o sermão. “Podiam fazer muito melhor”, disse.
Entretanto, a bispa reagiu ao The New York Times (NYT), garantindo que não estava “necessariamente” a dar um puxão de orelhas a Trump, mas decidiu apelar-lhe directamente “por causa do medo” que sente nas comunidades LGBTQ e de imigrantes. “Estava a tentar dizer: o país foi-vos confiado. E uma das qualidades de um líder é a misericórdia”, justifica.
A posição de Budde face às políticas da Presidência de Donald Trump são apoiadas pela Igreja Episcopal norte-americana, que também emitiu um comunicado nesta terça-feira a pedir que se evitassem quaisquer deportações e onde dizia estar a rezar pelos imigrantes e refugiados. “Como cristãos, a nossa fé é moldada pela história bíblica de pessoas que Deus levou para países estrangeiros para escapar à opressão”, declaram o bispo presidente Sean Rowe e a presidente da câmara dos deputados Julia Ayala Harris, citados pelo The Washington Post.
Defensora das minorias
Mariann Edgar Budde mostra-se próxima da comunidade de Washington, desde 2011, quando lá chegou para ser consagrada como bispa. Antes da mudança, passou quase duas décadas enquanto reitora na Igreja Episcopal de St. John em Mineápolis. Na infância, viveu tanto em New Jersey, como no Colorado, antes de estudar História na Universidade de Rochester, no norte do estado de Nova Iorque, completando, mais tarde, o mestrado e o doutoramento em Teologia na Virgínia.
Na diocese de Washington é responsável por 86 congregações e dez escolas episcopais, detalha o site oficial da Igreja, que também destaca a vocação de Mariann Edgar Budde para trabalhar com as minorias por acreditar que “Jesus chama todos os que O seguem a lutar pela justiça e pela paz e a respeitar a dignidade de cada ser humano”. Assim, descreve a biografia, “a bispa Budde é um defensora e organizadora no apoio a questões de justiça, incluindo a equidade racial, a prevenção da violência com armas, a reforma da imigração, a inclusão total de pessoas LGBTQ+ e o cuidado da criação.”
Além da vertente humanística, a bispa é reconhecida enquanto teóloga e já publicou três livros: How We Learn to Be Brave: Decisive Moments in Life and Faith (Como aprendemos a ser corajosos: Momentos Decisivos na Vida e na Fé, em português), em 2023; Receiving Jesus: The Way of Love (Receber Jesus: O Caminho do Amor), de 2019, e Gathering Up the Fragments: Preaching as Spiritual Practice (Recolher os fragmentos: A Pregação como Prática Espiritual) em 2007.
Quando não está a pregar ou a trabalhar junto da comunidade, a bispa pode ser encontrada a andar de bicicleta por Washington ou a cozinhar com o marido, Paul. Os dois filhos, Amos e Patrick são já adultos e MariannBudde é avó.