Morreu Pinto da Costa, o líder que marcou o FC Porto
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Jorge Nuno Pinto da Costa, ex-presidente do Futebol Clube Porto (FCP) morreu, este sábado, dia 15, na sequência de um cancro na próstata, que o próprio admitiu ser maligno. A confirmação foi feita à Lusa por fonte próxima da familia. Tinha 87 anos. O corpo de Pinto da Costa estará em câmara ardente na Igreja das Antas. Segundo o Público, o ex-presidente do FC Porto morreu cerca das 18h30.
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JOSE COELHO/LUSA_EPA
O ex-líder dos dragões vai ficar para sempre ligado à história do clube e do futebol mundial. Não só foi quem durante mais tempo ocupou o cargo – 42 anos, que terminaram em 2024, com a vitória de Villas-Boas nas eleições -, como era o dirigente de futebol mais premiado do mundo.
No ano passado ano, além da polémica saída da liderança do FCP, lançou um livro, em jeito de diário, onde expôs algumas das inimizades que tinha, quem queria e quem não deveria ir ao seu funeral, mas também momentos mais íntimos como o seu último casamento e até o estado das relações com os dois filhos. Terá feito recentemente as pazes com o filho.
Reservado em relação ao seu estado de saúde, só em agosto deste ano se soube que Pinto da Costa estava doente, já depois de abandonar a presidência do clube. A notícia, avançada pela TVGuia, dava conta de que o cancro na próstata, diagnosticado em 2021 e que o ex-dirigente tinha mantido em segredo, teria já progredido para outros órgãos.
Em entrevistas posteriores, Pinto da Costa contou como soube do diagnóstico: "Fiz uma série de exames e no fim não me diziam nada. Eu disse: "Doutor, vamos deixar de brincadeiras… ando aqui a fazer de cobaia?". Eles disseram: "Não, é maligno". Então eu disse: "Vamos encarar isso com naturalidade, não é nenhum drama". Ainda vou viver muito tempo. Isto já foi há três anos."
Depois, na apresentação do livro, em outubro, chegou a dizer: "Quando chegar a hora, quero que aceitem isso com naturalidade e saibam que o meu amor por vós é eterno".
Em novembro, começaram os rumores de que o seu estado de saúde teria piorado.
Reinado azul e branco, entre a glória e os casos de justiça
Para a história ficam os títulos e os sucessos desportivos à frente do FC Porto. Pinto da Costa tornou-se sócio do clube da cidade do Porto em 1953 e chegou a diretor em 1968. De 1982 a 2024 foi presidente, arrecadou 1.000 vitórias, 69 títulos, só no futebol.
Mas além dos sucessos desportivos, de ter criado uma nova correlação de forças no futebol profissional, que estava centrado em Lisboa e na rivalidade entre o Benfica e o Sporting, Pinto da Costa também somou ligações a casos judiciais, embora nunca tenha sido condenado nos tribunais comuns.
O principal caso a abalar a sua reputação foi o "Apito Dourado", em 2004. Em causa estavam alegados crimes de corrupção, tráfico de influências e coação sobre árbitros. Neste caso foram divulgadas escutas comprometedoras que não puderam ser usadas em tribunal como prova. Na época, a Polícia Judiciária foi a casa de Pinto da Costa para o deter, mas este não se encontrava, tendo-se apresentado no Tribunal de Gondomar no dia seguinte e acabando libertado alguns dias depois, após pagar fiança de 200 mil euros. As acusações acabaram arquivadas.
Na sequência deste processo, o Comité Disciplinar da Liga condenou Pinto da Costa a dois anos de suspensão, mas o castigo foi anulado pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol.
Em 2016, foi investigado na Operação Fénix que investigava uma empresa de segurança privada. Chegou a ser suspeito de contratação ilegal dos seus guarda costas, mas foi absolvido.
Em 2021, foi lançada a Operação Prolongamento – revelada pela SÁBADO - colocando novamente Pinto da Costa no centro. Suspeito de desviar 40 milhões do clube e tendo por base os negócios de transferências de jogadores e um alegado esquema em torno da venda dos direitos televisivos à Altice. Um processo que ainda aguarda conclusão.
Controversa foi também a sua postura como voz defensora do Norte contra o centralismo de Lisboa. Apoiando por muitos autarcas da cidade do Porto, viveu de costas voltadas para a autarquia nos mandatos do social-democrata Rui Rio (entre 2002 e 2013).
A linguagem irónica que muitas vezes usou, mandando farpas a políticos, dirigentes desportivos e celebridades, marcou também uma era. Sobre Santana Lopes, que também chegou a ser presidente do Sporting, disse, em 1996, na SIC: "Santana Lopes é um político que está em hibernação e se calhar prepara-se para voltar, não posso ir a nenhum frente a frente com ele porque não sou político. Foi secretário de Estado e ficou famoso por duas coisas: a pala de Alvalade e os violinos de Chopin. De futebol não posso falar porque não sabe nada, entrou para criar suspeição. É um ovni que vai passar. E olhe, transparência é isto? Jantaradas de dirigentes do Sporting com árbitros?" De antigo presidente do Benfica Vale e Azevedo disse: "Os ataques de Vale e Azevedo preocupam-me tanto como a caspa".
Família: da alta burguesia às polémicas dos casamentos
Nascido a 28 de dezembro de 1937, na freguesia portuense de Cedofeita, no seio de uma família da alta burguesia e com fortes tradições culturais, Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa não parecia determinado a marcar o mundo do futebol. O próprio partilhou em 2003, numa entrevista à Espiral do Tempo, que os pais "nunca gostaram do meu entusiasmo pelo FC Porto, não queriam que me distraísse com os estudos. Foi a minha avó quem, às escondidas dos meus pais, me ofereceu a inscrição no clube quando fiz 16 anos. E era o meu tio que me levava aos jogos muitas vezes sem que os meus pais soubessem."
Além da grande paixão pelo futebol, Pinto da Costa tornou-se notícia também pela sua vida amorosa. Casou cinco vezes, mas duas delas foi com a mesma mulher – Filomena Morais.
Casou pela primeira vez em 1964, com Manuela Carmona, filha de um amigo da família. É a mãe do filho mais velho de Pinto da Costa, Alexandre. Separaram-se, mas o divórcio só saiu em 1997, quando a filha de Pinto da Costa, Joana, já tinha 10 anos, e este já vivia com a mãe desta, Filomena Morais. A relação dos dois começou em 1985, quando ela era sua secretária, só casariam em 1998 e o divórcio aconteceria, em 2002, com grande escândalo à mistura. Em causa, a paixão de Pinto da Costa por Carolina Salgado, a relação mais polémica que teve, que só acabou oficializada depois do divórcio do portista.
O ex-dirigente conheceu Carolina na casa de alterne Calor da Noite e os dois foram viver juntos em 2003. A relação duraria até 2006, mas acabaria com estrondo. Ela lançou o livro Eu, Carolina, onde acusava o ex-companheiro de ter comido crimes enquanto presidente do clube nortenho. Acabou condenada em tribunal a 200 horas de trabalho comunitário por difamação.
Toda a polémica voltou a juntar os destinos de Pinto da Costa aos de Filomena Morais. Casariam de novo em 2008 e o divórcio seria decretado em 2012. Ela estava em Moçambique e disse na altura que ficou a saber do fim do casamento pela imprensa, não tido sido ouvida em tribunal.
O divórcio acontecia porque Pinto da Costa tinha conhecido Fernanda Miranda, 48 anos mais nova, que trabalhava no centro comercial ao pé do Estádio do Dragão. Casaram nesse mesmo ano e a relação durou até 2016, quando se soube que Pinto da Costa tinha voltado para uma paixão antiga, a médica Sílvia Costa, com quem teria namorado depois da separação de Carolina Salgado.
Chegou a falar-se de várias reconciliações com Fernanda Miranda, mas a relação não sobreviveu. Pelo meio, terá estado com a bancária Cláudia Campo, com quem veio a casar em 2023 e que tem estado ao seu lado, nos últimos anos.
Esta nova relação permitiu a reconciliação de Joana Pinto da Costa com o pai, que não viu com bons olhos o fim do casamento com a mãe para assumir uma relação com Fernanda Miranda. A nível profissional a filha de Pinto da Costa tinha, desde 2011, um lugar na estrutura do FC Porto, no departamento de marketing. Cargo que abandonou com a saída do pai da presidência.
Também o irmão, Alexandre, abandonou a estrutura do clube e esteve de relações cortadas com o pai desde meados de 2023, tendo-se reaproximado do pai no final do ano passado. Era o responsável pelas contratações do futebol, mas o caso judicial da Operação Prolongamento, em que é um dos visados, juntamente com o pai, parece ter sido a origem da rutura que chegou a haver entre os dois. Pinto da Costa escreveu sobre esse corte no seu livro, Azul até ao fim. Numa nota em relação ao Natal de 2023, escreveu: "Por discrepâncias com o meu filho Alexandre, não passámos o Natal em conjunto com os restantes familiares, nem sequer nos encontrámos! TRISTE! Quando, no dia de Natal, fui almoçar à minha filha Joana, também seu irmão Alexandre não estava! Por estas ausências e pela falta dos que comigo ceavam em paz e amor senti-me triste".
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