Vende-se TAP. Preço: sei lá

"O último critério é o preço". Foi através desta espécie de anúncio ao MasterCard que, no debate orçamental, António Costa anunciou as condições de venda da TAP. Não é bem "A TAP não tem um preço"; é "A TAP tem um preço, mas não importa qual". É uma técnica comercial inovadora e, provavelmente, eficaz. Eu não estava interessado em comprar a TAP, até porque faço parte dos 10 milhões de vendedores. Porém, sendo o preço irrelevante, sou capaz de considerar fazer uma proposta. De qualquer forma, se António Costa tiver outras velharias à venda, gostaria muito de visitar a sua banca na Feira da Ladra. "Quanto é que isto custa?"; "É-me indiferente". Era da forma que nunca mais faria compras no IKEA.

O preço é o último critério, a manutenção do hub em Lisboa é o primeiro. No fundo, se o potencial comprador garantir que mantém o aeroporto da capital como ponto de conexão de voos, até somos capazes de lhe pagar para ficar com a TAP. Como quando nos oferecemos para pagar mais uma cerveja a um amigo para ele adiar o regresso a casa. "Bebe mais esta, fica mais um bocadinho". Não estamos a vender uma companhia, estamos a querer que alguém nos faça companhia.

A TAP não é uma low-cost, é uma I-don't-know-cost. Quando o preço não importa, não estamos a fazer uma venda. Estamos a livrar-nos de tralha. António Costa quer muito desocupar a garagem e está a tentar despachar a TAP como se a companhia fosse um chaço com 450 000km que vai passar a pagar demasiado IUC. Por outro lado, em prol do interesse nacional, exige ao novo comprador que não mexa na miniatura de Nossa Senhora no tablier, no pinheirinho que deita cheiro a eucalipto pendurado no espelho e na cassete de Quim Barreiros no rádio. Tudo isto em nome da importância estratégica do Opel Corsa de '98.

Nem todos os militantes do PS concordam com esta estratégia de venda. Notoriamente, Pedro Nuno Santos. É que o ex-ministro é o adolescente a quem foi prometido este carro velho, assim que atingisse a maioridade e tirasse a carta. Infelizmente, chumbou no código - naquela parte em que se pergunta se é suposto travar quando se vê uma indemnização de meio milhão.

Uma vez que a privatização da TAP não foi a votos, o último critério parece mesmo ser a opinião dos donos do carro. Os contribuintes portugueses não estão necessariamente afeiçoados ao boguinhas, sabem que dá imensos problemas e estão fartos das contas exorbitantes no mecânico. E é verdade que alguns até nem se importariam de vender a TAP por tuta e meia. O problema é que desconfiamos que António Costa só consiga vendê-la por tuta.