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As Causas. A tragédia dos impasses

As Causas A tragédia dos impasses
Quando os sindicatos médicos pedem aumento de 30% do vencimento e redução do horário de trabalho para 35 horas, sem perda de vencimento (o que constitui um aumento adicional automático de 11,5%), percebe-se o irrealismo do pedido, por muito justo que

Este era até hoje de manhã o guião das “Causas”. Que partilho com os leitores do Expresso, assim como partilho o guião do que passou a ser o programa hoje na SIC Notícias, “SIC TRANSIT GLORIA MUNDI” (até porque a frase parecia até ontem aplicada a Marcelo e hoje passou a ser aplicada a Costa.

A meu ver o conflito entre Israel e o Hamas a partir de Paris, como me aconteceu na semana passada, é muito diferente do que a partir de Lisboa.

É essencial que percebamos isso, para nos prepararmos para choques da realidade e, desde já, para que não nos equivoquemos nas nossas análises.

O ANTISSEMITISMO ESTÁ VIVO

Comecemos por uma foto.

LUCIEN LIBERT

Julgo que para a generalidade dos portugueses esta imagem dá uma sensação de paz, normalidade, serenidade e – quando muito, para quem saiba o que é “estrela de David” – a ideia de que se está a homenagear o Povo Judeu e Israel pois o símbolo é a bandeira do Estado que nasceu em 1948.

Em concreto, aqui em Portugal acredito que fiquemos surpreendidos que a foto seja um ato (repetido em muitíssimas casas de Paris e em outras cidades) de antissemitismo. Mas em França todos perceberam.

O símbolo foi colocado em casas onde vivem judeus e traz ao cimo as memórias da perseguição dos nazis e do governo de Vichy. Esse governo colaborou no envio de 25% dos judeus residentes para campos de concentração e obrigou todos os outros a emigrar, ocultar a sua religião ou viver escondidos por compatriotas corajosos.

A França é hoje, depois de Israel e dos EUA, o país do Mundo com mais judeus. E é o país da Europa com mais muçulmanos, cerca de 9% do total, mas com cerca de 20% dos nascimentos nos anos mais recentes.

Nas últimas três semanas houve em França mais atos públicos de antissemitismo (cerca de 900) do que em todo o ano de 2022.

Como exemplos, muitas escolas judaicas receberam alertas falsos de bombas, insultos e gritos de “morte aos judeus” voltaram a ser ouvidos, uma judia com 30 anos foi apunhalada quando abriu a porta de casa, um comediante na rádio pública chamou a Netanyahu “Hitler sem prepúcio”, um grupo de jovens apoiantes antissemitas da causa palestiniana fez-se filmar no Metro a cantar “somos nazis e orgulhosos disso” (“On est des nazis et on est fiers”) e uma manequim e “influencer” (alegadamente chamada Warda Anwar), a propósito de um bebé que um terrorista do Hamas meteu num forno para o matar, perguntou num post do Facebook se puseram sal e pimenta e qual foi o acompanhamento.

Recente sondagem revela que 72% dos franceses temem que se repita em França o ataque terrorista do Hamas a Israel.

Mas a França não hesita: só 12% sentem antipatia (e 51% simpatia) por Israel ao passo que 61% sentem antipatia pelo Hamas (e só 5% simpatia).

O DNA DOS JUDEUS

Em França todo o espectro político (incluindo a direita mais radical de Eric Zemmour, ele próprio judeu), e com exceção do grupo de esquerda radical de Jean Luc Melenchon, expressou solidariedade com Israel e os judeus, e condenação sem matizes do Hamas.

No entanto, também foi generalizada a preocupação com os efeitos da guerra em Gaza, pelas vítimas civis entre palestinianos e se reforçou a defesa da urgência da criação do Estado da Palestina.

Não é difícil concordar com essas preocupações e desejo. E pode mesmo dizer-se que o surto antissemita foi reforçado pela guerra em Gaza.

Mas o problema é que os judeus têm impresso no seu DNA séculos de violência étnica, pogroms, e a memória do Holocausto e da “Solução Final”.

Por isso, não podemos olhar para o problema como um clássico conflito de fronteiras, mas – e disse-o repetidamente aqui nas últimas semanas – percebendo que a convicção firme em Israel e no povo judeu é que estão perante um desafio existencial e limite: o que desejam os islamistas radicais (e o eixo Irão, Iémen, Síria) é a destruição do Estado de Israel e com isso um novo Êxodo e o risco de um repetido Holocausto.

UM CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES?

Por isso é que olhar para França é essencial. O pânico é mau conselheiro, dirão os que estão sentados no conforto de um país muito seguro. Mas desde D. Quixote sabemos que não adianta lutar contra moinhos de vento ainda que não sejam gigantes ameaçadores.

Israel, como eu disse logo em 10 de outubro, sabe que vai ter danos reputacionais pela sua estratégia em Gaza, mas sabe também que desistir da destruição do Hamas é dar o sinal errado que apenas aumentará a propensão para se voltar a tentar novos “7 de outubro”.

Na Europa o resultado já está a ser óbvio. A rutura com a comunidade muçulmana vai acentuar-se com base no medo, a imigração sem regras vai tender a acabar, a expulsão de islamistas vai aumentar exponencialmente, a confrontação civilizacional desce à rua, acentuada pelas redes sociais.

Tudo é acentuado pela dificuldade dos muçulmanos em condenar sem contemplações o Hamas (que Erdogan, sem hesitar e menos de 20 dias depois do 7 de outubro, disse que “não é terrorista, mas uma organização patriótica que defende o seu povo e o seu território”) o que pode ser dramático.

Biden foi há dias muito claro e, infelizmente, presciente: “o que se passar no Médio Oriente nos próximos dois anos vai definir como será o Mundo para os próximos 80 anos”.

Como já aqui disse há 3 semana, estamos “num momento de fratura sistémica, como não houve desde o confronto dos mísseis russos em Cuba há mais de 60 anos”.

E infelizmente não consigo perceber o que se pode fazer para o evitar.

E temo que, quase 30 anos depois, Samuel Huntington tenha razão: o Mundo aproxima-se de uma fase de choque de civilizações. Quem estiver vivo que se prepare para essa tragédia.

O SNS LIGADO À MÁQUINA

Mas regressemos a Portugal e a três temas que – embora distintos – são problemas reais do Governo e têm algo em comum com a crise no Médio Oriente:

  1. A crise no SNS;
  2. A venda da Efacec;
  3. A privatização da TAP.

Quando os sindicatos médicos pedem aumento de 30% do vencimento e redução do horário de trabalho para 35 horas, sem perda de vencimento (o que constitui um aumento adicional automático de 11,5%), percebe-se o irrealismo do pedido, por muito justo que seja.

E reduzir o horário de trabalho quando há falta de médicos no SNS significa evidentemente que a redução de 5h semanais causará de imediato um aumento equivalente das horas extraordinárias calculadas com base num valor mais elevado.

Como no Médio Oriente e à nossa escala, o Governo não tem solução: não pode ceder e tem de ceder. Se ceder, abre uma caixa de Pandora na função pública, que vai provocar mais despesa e o aumento da captação de recursos na economia produtiva e nos cidadãos, tornando os custos de contexto para produzir, trabalhar e viver em Portugal ainda piores.

Se não ceder terá uma derrota expressiva nas eleições europeias.

A INCRÍVEL EFACEC SOB O SIGNO DE SÉNECA

Veja-se a Efacec. O Governo, em julho de 2020, nacionalizou a posição da Eng. Isabel dos Santos (71%) no capital da empresa. Como se está a revelar, não fez antes bem as contas.

Nessa altura foi anunciado que a nacionalização se impunha para viabilizar “a estabilidade do valor financeiro e operacional da Empresa, que gera um volume de negócios na ordem dos 400 M€ e permitindo, assim, a salvaguarda dos cerca de 2500 postos de trabalho, da valia industrial, do conhecimento técnico e da excelência em áreas estratégicas”.

Três anos depois, o Estado injetara mais de 200 milhões de euros na empresa, mas o volume de negócios da Efacec reduziu – diz o Expresso de 430 para 100 milhões de euros (ou seja, 77% (!)), o número de trabalhadores reduziu apenas 20%, e a empresa está em situação de falência técnica o que exigiu que o Estado assumisse a dívida e para vender aumentasse compromissos.

Finalmente privatizou, no que evidentemente foi uma “panic sale”, contra a injeção pelo adquirente de 15 milhões de euros na Efacec.

Como resultado, o Estado assumiu perdas de mais de 400 milhões de euros, ou seja 12% do que fez na TAP.

O Ministro da Economia, com resignação filosófica, citou Séneca (“para um navio que está perdido em alto mar, sem saber a direção do porto a que tem de se dirigir, todos os ventos são desfavoráveis”) e confessou o óbvio: “os Estados não são bons acionistas”.

Agora está tudo aos gritos pela venda por alegado preço vil. Mas todos esses deviam era ter gritado quando há 3 anos o Estado se meteu a nacionalizar.

Ou seja, e como no Médio Oriente, depois de nacionalizar Governo não tinha solução que continuar a meter dinheiro bom em cima de dinheiro mau. E sabia que se não vendesse assim daqui a uns anos em vez de 12% do injetado na TAP iria perder 25% ou mais.

TAP: O GOVERNO NUMA ALHADA

Finalmente, a privatização da TAP. O Governo, por motivos ideológicos, retomou o controle de 50% do capital em 2016 e meteu-se numa alhada que conduziu à situação onde estamos, é verdade que muito por causa da COVID (mas ao reentrar na TAP assumiu os riscos, como acontece em qualquer empresa no Mundo).

Agora tem de privatizar com urgência (não vá a economia piorar) e sabe que tem de vender a maioria e não pode vender a maioria: ninguém compra se não tomar o controlo e o Governo não pode ter a certeza de que se o fizer, o “hub” de Lisboa, que depende da TAP, se possa manter.

A solução vai ser inevitável: vender muito mais barato para com isso compensar um contrato que pareça – politicamente – garantir o “hub”. Daqui a algum tempo, um Ministro vai de novo citar Séneca, falar de navios no alto mar e dizer que o Estado gere mal. E muito gente vai gritar, a começar por Pedro Nuno Santos, que aliás já saiu da moita para tal efeito.

Mas o problema é, de novo, semelhante à nossa escala ao do Médio Oriente. O Governo tem um jeito especial para se meter em becos sem saída, nos quais não há soluções.

O ELOGIO

É a António Costa, por tanto sucesso, habilidade e manobras com êxito e em especial pelo modo como tem usado Galamba.

O mais recente exemplo foi colocá-lo a fechar o debate do Orçamento (para falar da TAP não foi…), numa provocação absoluta ao Presidente da República que para os já esquecidos lembro que exigira a sua demissão, até porque o Ministro usou uma frase de Marcelo (“este orçamento segue a única estratégia possível”) com “requintes de malvadez”, segundo o Diário de Notícias.

E já que estamos a falar de romanos, devido ao Ministro Costa Silva, só me lembro da expressão “sic transit gloria mundi” (“toda a glória no mundo é transitória”) que com crueldade Costa fez que percebêssemos que já se aplica a Marcelo mais de dois anos antes de ser inevitável.

LER É O MELHOR REMÉDIO

Lídia Jorge escreveu há um ano “Misericórdia”, um romance que acaba de ser traduzido em França e que gira à volta de uma personagem internada num lar e que se inspira na sua Mãe.

É um magnífico livro sobre a velhice num espaço fechado, mas como Lídia Jorge disse é “sobre o fulgor da vida”.

Também na passada semana saiu uma revista especial de Le Figaro Hors-série, 160 páginas sobre “Lisbonne, ou la douceur de vivre”. Basta folhear, ver as belíssimas fotos e lembrar o que disse atrás, para se perceber como Lisboa é cada vez mais irresistível para os franceses (o que deve horrorizar a Ministra da Habitação e a esquerda radical).

Junto as duas obras também como homenagem à relação entre Portugal e França, que de alguma forma desde a mais tenra idade considero uma Pátria Cultural.

A PERGUNTA SEM RESPOSTA

É um facto inequívoco que a Presidente da Comissão Técnica, que vai propor a localização do novo aeroporto ao Governo, era publicamente favorável a uma das soluções, Alcochete.

Também é inequívoco que foi contratado por ajuste direto de 230 000 euros um estudo a uma empresa de que é acionista uma vogal da Comissão.

E 13 de 21 desses contratos (todos por ajuste direto) não foram publicados no Portal Base, com vários argumentos, pelo menos até finais de outubro, segundo refere a TVI.

Finalmente, cereja no bolo, dois estudos (pelo menos) foram pedidos a defensores públicos da solução Alcochete.

A pergunta é esta: existem guidelines internacionais para peritos em arbitragens para evitar conflitos de interesse ou parcialidade. Não teria sido sensato – sobretudo se for proposto Alcochete – evitar tudo isto?

A LOUCURA MANSA

As guerras cercam a Europa. E em Portugal o que se passa? Como se pode ver no gráfico, no conjunto do Exército, Marinha e Força Aérea, temos no ativo: (i) 5562 oficiais, (ii) 8496 sargentos, (iii) 8204 praças (soldados e cabos).

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