Interferência de Elon Musk nos debates nacionais irrita a Europa
Vários dirigentes europeus denunciaram, direta ou indiretamente, as ações do proprietário da rede social X.
Está a aumentar a tensão entre a Europa e o homem mais rico do mundo. Vários líderes europeus acusaram Elon Musk de interferir nos debates nacionais.
O presidente francês, o chanceler alemão e os primeiros-ministros britânico e espanhol denunciaram os ataques do bilionário americano na sua rede social X (antigo Twitter).
O líder francês acusou Elon Musk, sem o nomear, de apoiar"uma nova internacional reacionária".
"Há dez anos, se alguém nos tivesse dito que o proprietário de uma das maiores redes sociais do mundo iria apoiar uma nova internacional reacionária e intervir diretamente nas eleições, incluindo na Alemanha? Quem o teria imaginado?", afirmou o presidente francês.
A expressão foi partilhada pelo homólogo espanhol. "A internacional reacionária, como disse o presidente Macron (...), liderada pelo homem mais rico do planeta, ataca abertamente as nossas instituições, incita ao ódio e apela abertamente ao apoio aos herdeiros do nazismo na Alemanha nas próximas eleições", denunciou Pedro Sánchez.
Nas últimas semanas, Elon Musk tem feito uma série de declarações chocantes. O bilionário e amigo próximo de Donald Trump chamou ao chanceler alemão Olaf Scholz "um idiota incompetente", após o ataque ao mercado de Natal de Magdeburgo. O patrão da Tesla também acusou o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, de negligência quando era procurador na década de 1990, em relação ao abuso sexual mais de 1.500 raparigas menores por homens de origem paquistanesa.
Berlim condenou as"declarações erráticas" do bilionário e Londres denunciou "aqueles que espalham mentiras e desinformação".
A interferência de Elon Musk está a tomar outro rumo em plena campanha eleitoral alemã. Na quinta-feira, vai transmitir em direto no X uma entrevista com a copresidente do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que apoia abertamente.
Olhos postos na União Europeia
Os Estados-membros da UE estão a voltar a sua atenção para a Comissão Europeia. O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Noël Barrot, pede à Comissão que intervenha"com a maior firmeza". O chefe da diplomacia francesa não exclui a hipótese de uma proibição do X na Europa, à semelhança do que aconteceu no Brasil. "Isso está previsto nas nossas leis", garante.
A Comissão Europeia está a investigar a rede social desde 2023, ao abrigo da Lei dos Serviços Digitais da UE (DSA). O eurodeputado Damian Boeselager (Verdes) questionou a Comissão sobre a postura de Elon Musk e sobre a legalidade destas intervenções.
"Se houver uma violação da DSA, gostaria de ver uma reação rápida. Se, muito simplesmente, Elon Musk aumentar o seu próprio alcance e utilizar esse aumento para recomendar um partido, a AfD na Alemanha, nas eleições alemãs, se isso for ilegal ao abrigo da DSA, então isso exige uma ação rápida", insiste Damian Boeselager.
A Comissão sublinha que a liberdade de expressão está no centro da regulamentação europeia. Mas há outra razão que pode levar à intervenção da União Europeia.
"Através dos algoritmos, é possível favorecer um determinado tipo de narrativa. Pode favorecer um determinado tipo de conteúdo, pode tentar proibir outro tipo de conteúdo", explica Thomas Regnier, porta-voz da Comissão Europeia.
"Indicámos claramente que essas transmissões em direto não são, em princípio, proibidas pela DSA. Agora, até que ponto é que podem ser promovidas? É isso que a Comissão vai analisar", acrescentou.
Está agendada para 24 de janeiro uma reunião entre a Comissão, o regulador alemão e as grandes plataformas digitais, incluindo o X, com o objetivo de evitar interferências durante as eleições na Alemanha.