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HIT ME HARD AND SOFT é mais da mesma Billie Eilish de sempre

HIT ME HARD AND SOFT é mais da mesma Billie Eilish de sempre
À primeira impressão, o terceiro disco de Billie Eilish não arrisca muito, limitando-se a solidificar o seu lugar como uma das mais consistentes artistas pop da sua geração.

Pode ser que o tempo nos contradiga, mas no momento da escrita destas linhas, a poucas horas do lançamento mundial de HIT ME HARD AND SOFT, o terceiro e muito aguardado disco de Billie Eilish, o mais provável é que não marque a sua história da mesma forma que When We All Fall Asleep, Where Do We Go? (2019), a estreia fulminante que coroou uma das mais promissoras cantoras pop da sua ainda jovem geração, ou Happier Than Ever (2021), a consagração musical de uma jovem a lidar com a sua recém-descoberta maturidade, marcaram.

Quer isto dizer que o seu novo trabalho é uma desilusão? Talvez. Mas HIT ME HARD AND SOFT continua a ser um álbum competente segundo qualquer métrica que se possa aplicar à música pop contemporânea, repleto de refrões memoráveis, grandes performances e uma visão estética que continua a ser notável na sua música, cinco anos volvidos sobre o terramoto que causou na indústria. Será essa noção de familiaridade, talvez, o seu principal defeito.

O que nos traz não é mais do que tudo o que fez o mundo apaixonar-se por Billie e Finneas O'Connell, seu irmão e fiel parceiro musical, desde o princípio: dele, um talento inegável para a produção musical; dela, uma voz única e muito imitada, mas raramente reproduzida; de ambos, uma química palpável, aptidão invejável para a escrita de canções e maturidade artística muito para lá dos seus anos.

Admirámos a sua independência, o facto de manterem o seu núcleo inconspurcado (ao contrário das dezenas de nomes creditados como produtores e compositores de outros artistas pop, foram só os dois desde o início), e a singularidade da sua visão estética, e foi essa combinação que cativou fãs de todas as idades e gostos musicais, passando por ídolos seus, como Lana del Rey e James Blake, e indo até veteranos como Dave Grohl, Thom Yorke ou mesmo Sérgio Godinho.

Se HIT ME HARD AND SOFT peca em algo, é em não se distanciar o suficiente dessa rapariga que conhecíamos tão bem de anos passados - a continuação do amadurecimento de uma jovem não tão diferente da que encontráramos em Happier than Ever, com um pouco mais de experiência e muitas das mesmas virtudes, gostos e inclinações.

Há algumas novidades aqui e ali: como pano de fundo de Skinny, a emotiva e intimista balada acompanhada à guitarra que abre o disco, ergue-se um exuberante acompanhamento orquestral que ainda não tínhamos encontrado no seu trabalho. "Acho que ela é bonita", diz Billie, os primeiros indícios da confissão de uma bissexualidade a que já havia aludido em entrevistas, e que explora de forma mais explícita no tema seguinte, Lunch, um dos candidatos a single do disco, com um musculado groove de baixo que lembra All the Good Girls Go To Hell ou Lost Cause - somos apresentados a uma Billie mais manifestamente lasciva do que aquela que, em adolescente, recusava ostentar a sexualidade como arma comercial.

Chihiro, que se apresenta como o potencial hino de pista de dança às altas horas que Oxytocin ou OverHeated não conseguiram ser, até ladra, mas não chega a morder, ficando-se por batida leve de arranque de matiné. Já Birds of a Feather, que pode muito bem vir a ser o êxito feel-good deste verão, apresenta-nos uma Billie que nunca foi tão pop, repleta de sorrisos e arco-íris, sem os toques de cinzento a que normalmente é associada - não se surpreenda se se vier a fartar de ouvi-la na rádio.

Assim segue HIT ME HARD AND SOFT, sempre algures entre a instrumentação ao vivo imaculadamente produzida e a produção eletrónica diferente quanto baste - ambas águas que Billie e Finneas há muito deram provas de saber navegar com proeza. Há mais uma ou outra balada acústica, incluindo The Greatest, que culmina num clímax de distorção não tão surpreendente quanto o de Happier Than Ever, cuja fórmula reproduz; e The Diner é o mais próximo que Billie alguma vez chegou de escrever outra Bad Guy, substituindo a energia adolescente por uma moção peculiar à Gorillaz que a deixa com pouco fôlego na chegada à meta.

Os momentos mais disruptivos estão reservados a L'Amour De Ma Vie, outra das mais infecciosas canções pop do disco que, a meio, se torna numa desconcertante extravaganza de synthpop e autotune (cujo sucesso ou fracasso fica por averiguar), e Bittersuite e Blue, os dois últimos temas, que mais se assemelham a um único medley de ideias soltas cuja lógica como um todo não é imediatamente clara. Mas mesmo estes estão longe de retirar a impressão de que podíamos estar perante uma compilação de sessões descartadas do disco anterior.

No final, pode ser que se venha a escrever que HIT ME HARD AND SOFT é um registo digno, talvez até superior aos seus predecessores (embora haja bons motivos para duvidar disso). O que não se pode dizer é que reinventou as regras de um jogo que os O'Connell conhecem muito bem, e para o qual já têm as fichas todas, agarrando-se a elas com toda a força que têm. Para a próxima, talvez seja boa ideia arrumar o tabuleiro e partir para outra.

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